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O mito da não regeneração dos neurônios

Algumas pessoas acreditam que os neurônios não se regeneram, mas esta informação não está correta. A questão é que um neurônio diferenciado não prolifera, então o que podemos observar no sistema nervoso é a produção de áreas chamadas neurogênicas.  Um estudo, publicado pela revista Cell, constatou-se que os neurônios se regeneram também durante a idade adulta e isso pode contribuir para o bom funcionamento do cérebro.  Os autores revelam que esses novos neurônios podem ter um valor fundamental para futuras pesquisas relacionadas ao tratamento de doenças neurodegenerativas. 

“Conhecer essa realidade cria uma expectativa. Abre-se a porta para desenvolver tratamentos diversos que promovam essa geração”, afirma Pablo Irimia, neurologista da Clínica Universidade de Navarra, na Espanha. Afirma, porém, que esses processos de neurogênese adulta têm um papel limitado, incapaz de corrigir lesões cerebrais sérias, e que vão esgotando seu efeito com a idade, mas que “nos dão pistas de que existe a possibilidade de induzir a aparição de neurônios por meio de fármacos e tratamentos concretos”.

É importante ter em mente que esta não é uma posição pacífica. Outros especialistas restringem esses pontos intensos de neurogênese adulta aos primeiros anos de vida, até os sete anos. Durante essa primeira etapa, o padrão genético herdado dos pais é somado a outros neurônios, que são responsáveis pela aquisição de novas habilidades, estabelecendo novas redes e circuitos simpáticos. Mas a aprendizagem permite  trabalhar a plasticidade sináptica, a conexão neuronal. E também é importante cuidar deles. O álcool e as drogas matam os neurônios e alteram a plasticidade sináptica, porque são drogas que afetam profundamente elementos estruturais e funcionais do sistema nervoso. E o tabaco, a poluição e qualquer elemento que afete negativamente o sistema nervoso. E também a falta de exercício mental e a solidão. Por que os neurônios também morrem por inatividade.

Mas devemos não perder de vista uma confusão que muitas pessoas fazem em relação às células neurais. As células neurais que são excitáveis recebem a denominação de neurônios, mas há outras células no sistema nervoso, como os astrócitos, glias, oligodendrócitos e outras, que não são excitáveis.

Atualmente, muitas pesquisas buscam mecanismos neuroprotetivos que consigam promover a regeneração de circuitos neuronais comprometidos. Trata-se de um campo em desenvolvimento. Alguns avanços foram obtidos, mas ainda há incertezas e um longo caminho a ser trilhado. Principalmente fora do Brasil, muitos governos e instituições de fomento concedem apoio financeiro para promover o desenvolvimento desta área de pesquisa. A pandemia da COVID-19 tornou evidente o papel central da ciência para a proteção da saúde coletiva, mas, no Brasil, cientistas enfrentam problemas como falta de investimentos e desvalorização profissional. A pesquisa em neurogênese é uma dentre as muitas áreas que sofrem significativamente com os cortes contínuos dos últimos governos brasileiros e suas políticas de antagonismo à pesquisa, à ciência e à educação como um todo.

Os estudos sobre o sistema nervoso começaram a ganhar vulto apenas na chamada Década do Cérebro (1990-2000). Já se sabe muito, mas as interrogações são ainda maiores. Trata-se de um campo de saber em pleno desenvolvimento e que precisa de apoio.

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Imagem de destaque: free use Pixabay – https://pixabay.com/pt/photos/neur%c3%b4nios-c%c3%a9lula-de-neur%c3%b4nio-7079536/